top of page

Um cálice de “cale-ses”

  • Foto do escritor: Kauane Lahr
    Kauane Lahr
  • 1 de mar. de 2018
  • 2 min de leitura


A exposição Queermuseu - Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, foi cancelada no Santander Cultural, sem nenhum tipo de debate ou discussão, “numa decisão unilateral”, como afirma o curador da exposição, Gaudêncio Fidelis.

Trata-se da exibição de um compilado de mais de 270 obras de artistas como Bia Leite, Adriana Varejão, Lygia Clark, Cândido Portinari, Alfredo Volpi, entre outros. As obras têm por objetivo criticar a forma como a diversidade de gênero é vista na sociedade, bem como, discutir questões relacionadas à LGBTfobia, violência, miscigenação e et cetera.

E talvez, agora você se pergunte: por que a exposição foi fechada? Foi fechada em virtude de protestos (a maioria gerados por segmentos conservadores, como o MBL - Movimento Brasil Livre) que alegavam pedofilia, zoofilia e blasfêmia em grande parte das obras. Com receio de que o nome da instituição financeira fosse manchado, o Santander decidiu fechar a exposição.

Mas a grande questão é que a exposição, assim como a arte em si, tem o papel de criticar, ou ao menos levantar o debate sobre temas que circundam nossa sociedade. Quem criticou a mostra, disse que haviam crianças frequentando o museu e que elas estavam vendo “tudo aquilo”. Porém, havendo ou não classificação indicativa, depende dos responsáveis pelas crianças levá-los até lá ou não. É uma questão de bom senso. Em nenhum momento foi dito que a exibição de obras era destinada a crianças em idade escolar, como dizem alguns dos manifestantes contra a exposição.

Esses protestos contra o Queermuseu refletem a onda conservadora que se arrasta sobre a sociedade, sem falar na hipocrisia, pois na maioria das vezes, quem critica esse tipo de manifestação cultural tem atitudes machistas e LGBTfóbicas e não prezam pelo bem-estar da sociedade, justamente por interferirem em questões subjetivas de cada indivíduo.

E onde está a tal liberdade de expressão que tanto se fala atualmente? De todos os lados vêm mãos e mordaças para calar bocas. Mordaças em mãos de pessoas vendadas, ou que usem talvez, antolhos, aquelas viseiras que impedem cavalos de enxergar muito mais do que o que está a sua frente. Pessoas sem perspectiva. Como já dizia Chico Buarque, "afasta de mim esse cálice".


 

Texto: Kauane Lahr

Revisão: Valentina Nunes

Travesti de lambada e deusa das águas, de Bia Leite, 2013.

Comentarios


© 2025. Todos os direitos reservados. Kauane Lahr. 

  • LinkedIn
bottom of page